Acordar… Algumas vezes esta tarefa pode ser difícil. O alarme começou a tocar. Ela tinha de acordar.
Calixto pôs os pés fora da cama dela. Quando os seus pés tocaram no chão ela teve uma estranha sensação. Ela quase que podia jurar que estava a sentir água. Ela olhou para baixo e não viu nada mais do que o chão e os seus pés. Mas ainda conseguia sentir a água.
- Isto é estranho, pensou ela.
Ela levantou-se e foi tomar um banho. Apesar do melhor para começar o dia ser tomar um banho de água fria ela preferiu tomar de água quente. Quando ela acabou foi se mirar no espelho. Ela limpou o espelho e, de repente, assustou-se. Ela estava assustadoramente pálida. Ela nunca tinha estado assim. E também nunca visto ninguém dessa maneira.
Ela foi para o seu quarto para se vestir. Depois disso pôs bastante base na sua cara, para parecer menos pálida.
Ela costumava tomar o pequeno-almoço num café perto do seu trabalho. Por isso ela apressou-se a sair de casa e a ir para lá.
Quando lá chegou ela chamou o empregado e pediu um croissant e um café. O empregado assustou-se com a sua palidez. Perguntou-lhe se ela se estava a sentir-se bem. Ela respondeu que estava óptima. Mesmo assim o empregado apressou-se a atender o seu pedido.
- Hum, este ar pálido tem as suas vantagens, ela pensou.
Ela levou algum tempo a comer. Ela detestava comer apressadamente. Gostava bastante de desfrutar os sabores da comida.
Quando acabou foi pagar.
Naquele dia só trabalhava de manhã. Tinha o resto do dia livre.
Assim que chegou toda a gente se virou para ela.
- Está tudo bem? Sente-se bem? Perguntava toda a gente.
- Sim, estou óptima.
A sua palidez continuava a impressionar.
Assim que terminou o trabalho correu logo para casa. Comeu algo rapidamente (pois estava com imensa pressa) e foi se arranjar. Ela ia à praia com a sua irmã nessa tarde.
Calixto estava um pouco nervosa.
Elas as duas tinham estado zangadas e Calixto tinha-a convidado para darem um passeio na praia e esquecerem as suas discussões.
Assim que Calixto ouviu a porta foi logo abri-la. Era ela.
Calixto esperava que a sua irmã ainda estivesse um pouco zangada. Mas esperava que ela trouxesse aquela tempestade.
Começou logo aos gritos, a querer discutir, dizendo que aquela tarde não iria alterar nada.
Calixto tentou acalma-la, dizendo que sim, tinham as suas divergências. E que tinham também tinham os seus pontos de vista divergentes e as suas teimosias.
- Mas é por isso mesmo que te convidei para um passeio. Vá lá, acalma-te.
- Está bem, eu vou parar.
Tão feliz que Calixto estava por ver que tinha conseguido acalmar a sua irmã que nem reparou no estranho brilho no olhar dela…
A sua irmã também acabou por arranjar em sua casa. Demorou algum tempo. E, estranhamente, pediu para se arranjar fechada no quarto de Calixto.
Quando acabou foram então para a praia.
Chegadas lá foram procurar um sítio onde pôr o guarda-sol.
Puseram creme solar e recostaram-se um pouco.
- Diz-me, que tens feito? Perguntou Calixto.
- Não tens nada a ver com isso.
- Está bem, esquece. Então de que queres falar?
- De nada. Deixa-me em paz! Disse sua irmã, virando-se de costas para ela.
Calixto ficou um pouco apreensiva. Não sabia que dizer ou fazer. Afinal aquele dia era para se reconciliarem.
- Vou nadar. Disse a sua irmã.
- Eu vou contigo. Espera.
- Não! Pára de andar atrás de mim!
A desilusão e o sofrimento estavam tão espelhados na face de Calixto quanto a raiva e talvez ódio estava na cara de sua irmã.
Sem saber que fazer de repente sentiu alguma fome. Tinha comido muito pouco. Como tal abriu a mal e tirou de lá uma sandes e um sumo.
Entretanto a sua irmã saiu da água.
- Estás cada vez mais gorda. Só sabes é comer.
- É assim, eu não sou de forma alguma gorda. Se quiseres podemos ir pesar-me a uma balança. Ou, se preferires, podemos ir a um nutricionista. E mais uma coisa: eu gosto muito de ti e queria que esquecêssemos as nossas divergências. Mas se tu continuas a agir desse modo vou-me já embora e nunca mais olho para a tua cara!
Por um momento a irmã de Calixto pareceu surpreendida. Depois, quando viu que ela falava a sério reflectiu por um momento.
- Queres ir dar uma volta pela praia? Perguntou a sua irmã.
- Sim, vamos.
O resto da tarde foi bastante calma.
Quando o sol começou a descer foram para casa.
Apesar de tudo, decidiram não jantar juntas. Aquela tarde já tinha sido suficiente, por enquanto.
Foi tomar um tomar banho de chuveiro. Queria tirar tudo de cima dela e sentir-se leve.
Quando saiu foi se ver ao espelho. Quando o limpou sentiu-se mal. Não era ela que estava lá, era um cadáver. O seu cadáver.
- Pára de fugir!
Olhou para trás e viu uma intensa luz.
- Pára de querer mudar o que já está feito. Vem comigo.
- Quem és tu? Que queres?
- Vem, não tenhas medo. Confia em mim.
Calixto hesitou. Mas acabou por lhe dar a mão.
Assim que lhe tocou sentiu um calor envolvente. E viu todo o seu dia a voltar para trás, até voltar ao momento em que a sua irmã quis ir sozinha para a água. Viu a sua desilusão. Viu o momento em que foi comer. Ao mesmo tempo que se observava a comer decidiu desviar o olhar um pouco para a água, para a sua irmã. E viu que ela a observava bastante, embora disfarçadamente. Continuou a observar-se a comer até que acabou. Observou-se enquanto se recostava na toalha.
De repente ouviu um grito de ajuda. Era a sua irmã! Viu enquanto se levantava à pressa e corria para a salvar. Viu como o mar de repente parecia mais selvagem.
Viu todo o seu esforço.
Mais gente foi ajudá-la.
Mas Calixto já estava cansada. Tinha engolido demasiada água…
Viu quando a sua irmã pisava na areia, sã e salva. E viu quando o seu corpo sem vida era levado pelas gentes.
- Não! Calixto responde-me! Acorda! Não! Disse a sua irmã, em desespero.
Viu-a abraçá-la, sussurrando-lhe ao ouvido, dando um sorriso meio disfarçado:
- Eu sabia que virias. Agora todas as nossas discussões acabaram…