quarta-feira, junho 21, 2017

Corpo esquecido


Tudo o que queria era voltar atrás. Esquecer tudo. Mas, naquele turbilhão de sentimentos, não o conseguia fazer. Ele tinha feito mal a Mariana. Ela não o podia esquecer. E como o fazer? Estava cheia de nodoas negras. Mas por fim tinha-o confrontado. Podia lhe ter valido uma tareia, mas conseguiu-o.

Estava farta dele. Ele tinha traído Mariana vezes demais. E ainda chegava com aquele ar de machão, dizendo que a culpa era só dela, por não lhe dar o que queria e quando o queria. Mas, depois, mostrava-se arrependido das suas palavras e acabavam a fazer amor como nunca antes. Como ela se arrependia desses momentos de fraqueza. Como havia sido burra. Mas agora era o fim, tinha se livrado dele. Agarrara numa faca e atingira-o no pescoço, impossibilitando-o de falar. José tentara respirar, mas só saía sangue. E, por fim, caíra, morto. Mariana não podia estar mais feliz.

Ela não tinha muita força, mas iria dar tudo por tudo para cortar José por partes. Queria se desfazer dele e essa era a forma mais fácil que encontrara de o fazer. Os seus pais não podiam desconfiar nada. Apesar do filho ser um traste, defendiam-no sempre, dizendo que Mariana é que estava errada, que ela merecia as sovas. Achou, na sua mente, divertido. Agora que ele estava morto, podia brincar com eles. E que tal enviar uma orelha com o pírcingue dele, sangrenta? Mal podia esperar para ver a cara deles. Mas, por outro lado, era errado. As pistas podiam conduzir até si. Não, não faria isso. Apenas desmembrá-lo-ia e livrar-se-ia dele, em pedaços.

A noite já ia longa… tinha de o fazer rápido. Por sorte viviam numa casa terra, sem vizinhos. Nem queria imaginar como seria fazer aquele serviço sem essa particularidade. Teria de esperar pelo amanhecer, para se encontrar sozinha. Para aumentar a sua sorte, havia uma motosserra na garagem. Foi ver dela e começou a despedaçar o corpo, que, entretanto, tinha arrastado para a banheira. Não era nada de novo livrar-se de um corpo assim, mas era a primeira vez que o fazia.

Quando acabou, estava coberta de sangue. Apetecia-lhe tomar um banho, mas primeiro tinha de tirar de lá os pedaços de José. Foi buscar uns sacos pretos e foi aí que se apercebeu que começava a amanhecer. E o que faria agora, como levaria os restos de José até onde quer que fosse? Tinha de esperar pelo dia seguinte.

Nesse dia não iria trabalhar. E ligou também para a empresa de José, dizendo que ele estava constipado, não podendo ir trabalhar. Depois, descansou.

Acordou, já eram cinco da tarde. Ainda faltavam duas horas para anoitecer. Foi tomar um banho para limpar todo o sangue de cima de si. Tinha sangue em todo o lado: cabelo, corpo…

Por prevenção, deitara-se no sofá a dormir, com um saco de plástico rasgado que cobria todo o sofá, para não o sujar.

 Depois do banho, foi fazer algo para comer. Tinha pouca carne em casa… Olhou para os sacos com os resto de José. E porque não… Tirou um pedaço do peito de José e pô-lo a fritar. Hum, nunca nada lhe tinha sabido tão bem. E que tal ficar com ele em casa, cozinhá-lo? Parecia-lhe uma boa ideia. Nem ela sabia o que a aguardava…

Ao fim de uns dias, ligaram-lhe. Ninguém sabia de José. Procuraram por ele nos bares habituais, mas não o encontraram. Se Mariana sabia dele. Ela respondera que não, desde aquele dia que não sabia nada dele. Mas o carro ainda se encontrava a porta dela, e foi isso que a tramou. A polícia, alarmada pelos pais de José, bateram-lhe a porta. E foi aí que viram o estado da casa e que viram os sacos pretos. Sem arca e um frigorifico pequeno, não dava para guardar tudo. E o sangue demorava a sair. Por isso a casa ainda se encontrava desorganizada.

Prenderam Mariana pelo crime atroz. Disseram que nunca tinham visto nada assim.
Foi julgada a porta fechada, pela atrocidade do crime. Apenas assistiram os pais de José. Até os seus pais haviam abandonado Mariana. Ninguém jamais a achou inocente, que apenas se havia defendido. Foi condenada a 25 anos numa instituição mental, pois, segundo as palavras do juiz: ‘Quem faz um crime destes, não bate bem da tola’.


Ana Sophya Linares

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