Precisava de ti aqui, mas não te encontro. Partiste, qual cobarde, deixando sozinha nesta luta. Quando morreste, o meu mundo desabou. Tudo o que conhecia deixou de existir. E agora eis-me, sozinha, enfrentando as adversidades da vida. Porquê tinhas de te matar, deixando em herança um monte de dívidas por pagar?
Sofro em vão, pois nada mais tenho. Parto agora deste mundo, fujo para onde não me encontrarão. Vagueio sem rumo nem destino, deixando me ir ao som do vento. Choro copiosamente, pois não sei o que fazer da minha vida. Só me resta este caminho. Terei de ser discreta, para não ser apanhada. A minha vida, idílica até à tua morte, subitamente mudou.
Mas chega de desgraças, tenho de seguir com a minha vidinha. Partir, é isso que tenho de fazer. Vou para França, onde já tenho um irmão. Ele me auxiliará a passar despercebida.
Vou para casa, onde as malas já estão prontas. Deito-me a descansar um pouco. Afinal, nada correu como o esperado, até agora. Não pude fiar-me na minha amiga, pois ouvi uns zunzuns que ela andava a contar os meus segredos. Por isso, saí antes do esperado. Agora, só me restava descansar. Uma hora, seria o suficiente. Só esperava que nada corresse mal…
Acordei com o toque da campainha. Quem seria? Fui espreitar no binóculo e vi que era a polícia. Que azar. Eu não pagava as prestações há meses, é certo. Mas não esperava que mandassem a polícia. E logo no dia em que ia sair do país…
Abri a porta.
- Boa tarde, como estão.
- Muito bem, podemos entrar?
- Podem, claro.
E levei-os até à sala. Como as malas estavam no quarto, não havia perigo de as verem dali.
- Sim, digam. A que se deve esta visita? – Disse eu, tentando não demonstrar o meu nervosismo.
- Sim, senhora Carolina Reis. Vimos visitá-la devido ao seu atraso nas prestações da casa. Interpuseram um processo em tribunal contra si. Não sei se sabia…
- Não, de facto, não sabia.
- É estranho, não nos engamos na morada dada pelo tribunal. Bem, o que é certo é que estamos aqui para lhe colocarmos algumas questões.
- Com certeza, digam.
Perguntaram pela minha vida financeira e pessoal. Foi tudo questões simples. Enquanto isso eu via as horas a passar. Não podia dizer nada, mas quanto mais depressa eles se despachassem, melhor. Fui rápida e concreta a responder. Passou-se uma meia hora assim, até que tiveram de ir embora. Aconselharam-me a não sair do país, com possível pena de prisão preventiva se o tentasse fazer. Não me assustei e respondi que isso estava fora dos meus planos, pois estava mal, financeiramente.
Que alívio quando eles saíram. Mas, agora, estava tramada. Não podia sair do país de avião, teria de seguir por terra, de carro. Fui ao computador e cancelei o bilhete de avião, sendo ressarcida. Com esse dinheiro aluguei, também através da internet, um carro, pois não possuía nenhum, de momento. Tinha sido vendido para me ajudar nesta viagem. Chamei um táxi, para me levar até ao stand. Deixei as malas em casa, não estivessem a vigiar-me.
De facto, estavam. Eu é que não o sabia na altura. Mas despistei-os, sem o saber. Derivado ao grande número de automóveis que circulava naquela hora, não me conseguiram seguir. Fui buscar o carro e pedi a um amigo, a quem telefonei no caminho e combinei um café, para me ir buscar as malas a casa, discretamente. Acedeu e foi. Por sorte, a policia, não o conhecendo, não estranhou a sua entrada no prédio. Nem quando desceu com duas malas cheias. Combinamos encontramo-nos no café onde tínhamos falado. Entregou-me a mala e eu dei-lhe 50€, como agradecimento.
Daí segui para as estradas secundárias. Tinha de chegar a França antes que notassem pela minha falta. Não podia parar a não ser pelo estritamente necessário. Tinha pedido ao meu amigo para acender as luzes, para pensarem que estava lá. Teria, assim, pelo menos um dia de avanço. Segui sempre escondida até Espanha. Aí, passei para as autoestradas, para chegar mais depressa. Nem sei quanto tempo demorei a chegar. Só sei que brevemente estaria em Paris, a cidade luz. Lá, o meu irmão aguardava-me. Dizia-me que a casa era pequena, mas tinha um quarto livre para mim. Quando cheguei estava estafada. Entretanto, o meu irmão (que via as notícias de Portugal) dissera-me que os jornais tinham apresentado as minhas fotos e que estava desaparecida, que era uma fugitiva da justiça. Eu sabia que tinha de estar em discrição máxima. E ia estar, pelo menos durante dois dias. Pois estava cansada demais da viagem.
Passado esses dois dias, decidi sair. Algo que o meu irmão me impediu de fazer.
- Temo que não possas ficar cá.
- Não posso? Mas para onde irei?
- Não sei, sinceramente. Mas já és procurada cá.
- Como assim…?
- A tua foto passou na televisão. Em breve saberão que estiveste cá. Anda, eu ajudo-te. Pela calada da noite, partes de novo, para onde quiseres.
- Mas eu não sei para onde ir. E se me apanham?
- Compreende, eu tenho filhos, não posso ir dentro. Sou o sustento da casa.
Pensei um pouco. Bem, que havia a fazer?
- Está bem, eu vou…
Tal como combinado, quando a noite chegou, parti. Não sabia para onde ir, pelo que cometi o erro de ir pelas estradas nacionais. Fui rapidamente apanhada e presa. Agora aguardo a extradição…
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