quinta-feira, maio 18, 2017

Célia

Estava escuro. Célia não queria estar ali. Era sempre o mesmo. O escuro penetrava no quarto. O frio chegava, pesado. Depois, quando era bem tarde, ele vinha. Começou por espreitar apenas o quarto. Mais tarde aventurara-se a entrar no quarto, observando-a. Não tinha sido uma ou duas, mas muitas vezes, tinha-o visto ali, parado a observá-la. Ela sentia calafrios cada vez que o via. Escondia-se debaixo dos cobertores para não o ver. Tinha medo. Ainda não se habituara a viver ali. Tendo crescido num orfanato, um quarto para si, em silêncio parecia-lhe assustador. A sua nova família era simpática, mas sentia-se demasiado envergonhada de ir para a cama dos pais. Ele estava ali, agora. Sentia medo. Que será que faria? Ficaria a observar, apenas, ou avançaria, como já o havia feito? Célia não lhe conseguia ver a cara, estava demasiado escuro. E ela demasiado temerosa para acender a luz. Tinha medo que a tentasse tocar, outra vez. Que se deitasse com ela, que lhe tapasse a boca enquanto a... Não! Não queria pensar nisso! Tinha sido um pesadelo, com certeza. Apenas isso. Jamais acontecera... E, quando viu, ele estava a aproximar-se, novamente. Quando ele se deitou com ela, Célia abriu os olhos e viu o rosto do pai...

Sem comentários: