quinta-feira, maio 18, 2017

Rocio

Rocio mexeu-se. Acordara finalmente. Deu uma olhada em redor. Estava solta. À dias que estava ali. Quantos eram, exactamente? Cinco dias, pelos arranhões que tinha feito na sua própria pele. Aproveitou para se levantar. Odiava aquela sala. Tanto já havia vivido ali... Ele tinha-a cortado, mas Rocio ainda conseguia andar. Não sabia onde se encontrava. Tinha sido para ali levada de olhos vendados. Tudo por causa de uma boleia. Nunca lhe passara isso pela cabeça, mas os amigos tinham-na deixado no meio do nada. Cinco dias. Ninguém devia sentir a falta dela. Morava sozinha, trabalhava num call center, os amigos tinham-na deixado... Tudo lhe corria mal. Naqueles dias tinha sentido o maior terror da sua vida, e ninguém ligaria a ela. Enquanto pensava isso, procurava uma saída. As janelas eram demasiado altas, no meio do entulho havia pouco que a pudesse suster. Só se conseguisse mexer a maca... Mas, mesmo que pudesse mexe-la, não conseguiria abrir as grades. Ele tinha levado as 'ferramentas'. Não teria tempo para procurar no meio do entulho, mesmo que quisesse. Havia duas portas. Rocio ainda não as havia tentado, com medo que fossem um engodo. Tentou abrir aquela por onde o via sair. Nada. Nem se mexeu. No entanto, pareceu-lhe ter ouvido passos. Com medo, correu para a outra porta. Abriu-a com facilidade. Mas, quando viu, o chão estava coberto de vidro. Rocio estava descalça. De repente, ouviu a porta atrás dela a abrir-se. 'Com dificuldade em escolher?', disse ele, rindo-se. Rocio sabia que não tinha hipótese, estava demasiado fraca por aqueles cinco dias sem comer. Ele apenas lhe dava água, para que ela aguentasse mais um pouco... Quando ele se aproximou, Rocio pegou na faca que ele trazia e espetou-a no seu peito, morrendo quase de imediato. 'Não, porquê? Eras a minha obra de arte!', disse ele, olhando para o corpo da jovem Rocio... Pegando no corpo, levou-o pela porta de onde tinha vindo, até à rua onde tinha o carro estacionado. Colocou o corpo de Rocio embrulhado num oleado no porta-bagagens. Chovia desoladamente naquela noite. Aquele armazém ficava longe da cidade, mas ele não queria depositar o corpo lá, chamar a atenção sobre o local. Vestiu o casaco, que havia deixado no carro, pois estava frio. Iria deixar o corpo onde a havia encontrado, na berma da estrada. Ali não o preocupava que a encontrassem. Ali não a ligariam a ele. Iria deixa-la e partir. Somente isso.

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