quinta-feira, maio 18, 2017

Verdade Escondida

trovoada adivinhava-se terrível. Alexandra tinha ainda coisas a fazer. Achou por bem ir deitar-se mais cedo, fazer as coisas de madrugada, quando a luz voltasse. Afinal, tinha de se levantar cedo, mesmo. Tinha de visitar a sua avó ao lar. Tinha sido ela que a havia criado Alexandra, a sua mãe tinha morrido em nova. Era hora de dormir... Pelas quatro da madrugada, despertou. Alexandra verificou a luz. Acendeu. Ela levantou-se, lavou a cara e foi tratar das tarefas. Tentou não fazer muito barulho, mas isso parecia uma tarefa difícil. Mas tinha de se despachar, tinha de apanhar o comboio bem cedo. Por volta das seis da manhã estava despachada. Foi-se arranjar para estar pronta até às sete horas. Ainda queria algum tempo livre para beber café e relaxar. Eram 8 horas e já estava ao pé dos comboios. Seria um longo caminho até ao lar da avó. A seguir teria de apanhar o autocarro até à sua terra e caminhar até à casa (que estava vazia) da avó. Chegada lá, ainda tinha de fazer limpezas da casa. Por sorte ainda tinha a àgua e luz ligadas, que Alexandra pagava com esforço. O gás era de botija, ainda demorava a acabar. Mas chega de pensar em futilidades, pensou. Tinha de ir visitar a avó antes das limpezas. Pronta para sair, caminhou até ao lar. O lar ficava numa rua desolada. Era apenas uma casa já antiga. Não tinha dinheiro para a pôr num lar mais recente, com mais condições. Chegou lá e pediu para falar com a avó, informando o nome. Dirigiu-se à sala de espera, que costumava estar abarrotada mas nesse dia estava vazia. A sala era pequena e mal aquecida. As janelas eram antigas, deixavam entrar o ar. Finalmente chegou, numa cadeira de rodas empurrada por um funcionário de mau humor. Deixou-a ali, ao abandono. O que vale é que era um dia de sol, os outros utentes deviam estar no quintal. Reparou na falta de limpeza da sala, na falta de ventilação, nas paredes cheias de caruncho. Pediu perdão à avó por tê-la de deixar ali, não havia mais dinheiro para a pôr noutro lar. Suspeitava que o lar disse clandestino, mas não tinha hipótese senão deixa-la ali. Pediu perdão, perdão, perdão. A sua avó disse que a perdoava, mas descreveu várias situações onde era maltratada. Alexandra chorava junto com a sua avó. Chorou até à hora de saída. Veio o mesmo funcionário mal-humorado avisar que era hora de saída. Levou a avó de Alexandra e saiu. Alexandra ficou mais um pouco, limpando as lágrimas. 'É aqui que mereces estar, avó', disse para si mesma. 'Por todo o mal que me fizeste, é aqui que mereces estar'. Alexandra sorria enquanto saía. Passou pela receção, onde agradeceu por tratarem tão 'bem' a avó...

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