quinta-feira, maio 18, 2017
Desamparada
A noite tinha-se posto e não havia mais luz naquele lugar. Mariana sabia que estava na hora de partir. Tinha de voltar a casa. Mas
apetecia-lhe tanto ficar a observar aquele céu estrelado... Da sua casa não o
veria tão bem. Mas tinha dois filhos para alimentar. 'Responsabilidades
primeiro', pensou Mariana. Voltou, vagarosa, sabendo que teria de ser assim.
Chegada a casa, encontrou uma grande confusão. Não havia ponta por onde se lhe
pegasse. O que vale é que já tinha o jantar preparado. Arrumou o que pode e pôs
o jantar na mesa para os filhos. Saíra por uma hora e era isso o que deixavam.
Mariana não tinha tempo a perder. Enquanto os filhos jantavam, Mariana ia
arrumando as coisas. Quando finalmente o fez, era tempo de deitar os filhos.
Ela sabia que ia adormecer com eles. Não iria jantar, como sempre. Não dava,
tinha de ser mais ativa. Foi preparar um café mesmo antes de os deitar. Fraco,
para não ficar acordada muito tempo.
Após adormecer os filhos, sem dormir também, foi então
jantar. Pensou na vida, como era difícil, ali, no campo. Mas tinha sido ela que
a tinha escolhido assim, para fugir a um marido violento. Pensara que era o
melhor... Não tinha saudades do marido, mas sim da vida facilitada que tinha na
cidade, perto dos seus parentes. Mas eles haviam escolhido virar as costas a
Mariana quando mais precisou. Essa era a sua vida agora, longe de tudo e de
todos. Nunca a encontrariam naquela ilha, no meio do campo.
Só tinha saudades... Era só isso.
Quando deu por si era já meia-noite. 'Jesus, como demorei
tanto?', pensou. Foi se arranjar para dormir, e foi para a cama, de seguida.
Enquanto demorava a adormecer, pensou em como a noite estava apetecível... Morna,
aquecia o espírito de Mariana. Ela sentia saudades de ter um relacionamento,
não o podia negar. Estar ali, no meio do nada, era um sufoco. Mas os seus
filhos estavam primeiro. Quando o agora ex-marido os ameaçara matar, Mariana
não teve outra escolha senão fugir com eles, esconder-se do mundo. Eles estavam
bem, já não se lembravam de nada. Pelo menos assim aparentava.
Mariana foi vê-los. Dormiam calmamente. Nada lhes iria
correr mal naquele lugar. O que lhes poderia acontecer, afinal? Ali estavam
protegidos. Havia uma vizinha que sabia toda a verdade. Ela jurara segredo, mas
podia apostar que todos os outros também já o sabiam. Mas havia de correr mal,
não, nada.
Fechou os olhos. Mal sabia ela que era a última vez que o
faria. Não devia ter deixado a janela aberta, nunca...
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