quinta-feira, maio 18, 2017

Injustiçada

Bruna olhava pela janela o pequeno bosque desolado. Estava trancada no seu quarto, outra vez. os seus pais assim o tinham determinado. apenas porque pedira para sair com as suas amigas. Não pudera nem terminar a refeição. 'Para saberes que, quanto te sobrar para festas, faltar-te-á para comida', dissera sua mãe. os seus pais eram ríspidos demais, em comparação com os das suas amigas. Todos pareciam agradáveis... Pelo menos as suas amigas assim os descreviam. Quem lhe dera poder sair. Se o seu quarto não ficasse no primeiro andar... Pensando bem, a queda não seria assim tão grande. Não, mas que estava a pensar!? Mas porque não fugir? Só não seria nessa noite. Pela madrugada abrir-lhe-iam a porta. Nessa altura poderia sair. A sua mãe ainda estaria na cama e o pai prestes a sair para o trabalho. Ela despertava sempre que ouvia a porta a ser destrancada. Começou a preparar a mochila, tirando os livros escolares e colocando duas mudas de roupa. Ainda bem que a mochila era grande, ainda tinha espaço suficiente para colocar comida. Agora só tinha de esperar que chegasse a madrugada. deitou-se vestida com uma nova roupa, para que poupasse tempo. 'Clique', fez a chave. Conforme o fez, Bruna despertou. Esperou pelo som da porta a bater no andar de baixo e levantou-se. fazendo pouco barulho, saiu do quarto. Dirigiu-se à cozinha, onde tirou alguma comida dos armários. Deixou-os abertos, para não fazer mais barulho. Saiu de casa sorrateiramente, com a mochila pesada às costas. Ainda estava a amanhecer quando saiu. As cores da madrugada eram lindas, pensou. Mas não podia ficar ali a observar. tinha de andar, e depressa. Havia pouco trânsito, a maior parte dos seus vizinhos ainda dormia. dirigiu-se ao bosque mais longe de sua casa. Aí estaria protegida, iria até onde o bosque a levasse, mesmo que fosse a lugar algum. A liberdade recém-adquirida estava a dar-lhe adrenalina. Bruna ficou mais atrevida e decidiu caminhar até à aldeia mais próxima. demorariam horas até que dessem falta dela. Bem, nem tanto assim. Quando a sua mãe a fosse acordar, daí a uma hora, saberia que ela tinha desaparecido. Bruna apressou o passo. Apesar de estar perto do bosque, decidiu ir perto da estrada. Só assim se podia orientar. Ia no percurso à duas horas quando ouviu o telemóvel. Devia ser a sua mãe. Nem olhou para saber quem era. Já deviam saber do seu desaparecimento. Continuou a andar, apressando o passo. Quando deu por si, um carro da polícia ia a seu lado. 'Oh cachopa, não estarás perdida?', perguntou o polícia. Bruna nada respondeu. Estava com demasiado medo, medo que a levassem de volta. Mas não lhe deram hipótese. Bruna foi obrigada a parar. Forçaram-na a ligar para os seus pais. Bruna sentia frustação pela fuga inacabada. Os polícias disseram que a levariam a casa. 'Não', queria ela poder dizer. Não podia imaginar o castigo que iria apanhar. Sabia que ia ser castigada, isso era certo. Quando chegou a casa, o pai já lá estava, claro. Bruna sentiu medo. Abraçou o pai e a mãe à frente dos polícias. Esperou dentro de casa, enquanto eles falavam. Bruna tinha fome, não tinha comido nada de manhã, no meio da pressa. Mas estava com demasiado medo de comer. Podia levar uma chapada por o fazer. Finalmente os seus pais chegaram a casa. Mandaram-na de imediato para o quarto, sem comer. Disseram que iam ligar à escola, dizer que nas próximas duas semanas não iria lá. Que ela veria o que lhe ia acontecer. A princípio, aguentou bem o dia. Esperou pelo anoitecer para dormir de madrugada acordar com o tal clique. Acordou eram nove da manhã. Estranhando, dirigiu-se à porta para sair. Não! Estava trancada! Como era possível? Ela queria sair. Tentou empurrar a porta, gritou em desespero. Nada, não se ouvia nada. Era como se tivesse sido abandonada. Estava com tanta fome... O desespero preencheu-a durante dias, até ficar sem forças... Seu corpo foi encontrado pela família, um mês mais tarde, quando os seus pais regressaram. A causa de morte foi considerada um lamentável acidente...

Sem comentários: