quinta-feira, maio 18, 2017
Mariza
Mariza estava à espera de algo diferente. Não podia acreditar que a vida disse só assim. Livre de escolher, o destino demonstrava-se certo: o casamento. Ela queria mais. Mas nunca fora boa na escola... Com o destino selado, para alegria dos pais, Mariza preparava-se para dormir. Não se imaginava a fazer mais nada naquela noite. Seu recente marido já roncava, perdido de bêbado. Era isto o final? Seria assim o resto da vida? Que vontade louca de fugir. Começar tudo de novo, tomar um novo rumo. Mas não havia nada a fazer. A sua vida tinha terminado. Embora acompanhada, sentia-se só. Terrivelmente só. Nada a preparara para aquela vida. Era a primeira vez que saía da casa dos pais. O que devia fazer? Sentia-se uma estranha ao deitar-se naquela cama. Sentia medo do que pudesse acontecer. Nunca se havia deitado com um homem, os seus pais sempre zelaram muito por ela. Mas Mariza também era recatada, não permitia que lhe faltassem ao respeito. Mariza estava farta daquele dia. Todos pareciam estar felizes. Menos ela. Ela chorara. Tinha dito que era de alegria, quando na verdade era de desespero. Porque dera aquele passo? Antes parecia-lhe o mais ajuizado. Agora, parecia um erro. Só esperava que o marido fosse complacente com ela. Que acalmasse os nervos. Ele já lhe tinha batido uma vez. Ficara marcada na altura. Quisera desmanchar o noivado, mas a família chamara-a à razão. Não ligaram às nodoas negras, apenas à nodoa que iria provocar se desmanchasse o noivado.
Agora olhava-o a dormir. Como ele ressonava. Só lhe apetecia enfiar-lhe uma almofada na cabeça, para o calar. Que raiva a tudo. Não, não dava. Tinha de sumir dali. Ir para casa dos pais. Não queria estar ali, simplesmente isso. Foi quando ele acordou. Não era possível, logo agora? Mariza começou a vestir-se à pressa, antes que ele tivesse algum ato de reação. Que sorte a sua de ter virado a cabeça e fechado os olhos. Em breve já ressonava. Não interessava mais. Com ele não ficava. Se os pais não a aceitassem iria para casa de uma amiga, até encontrar um lugar para ficar. Mas ali não ficava. Não mais. E ele ressonava... Num ápice, pegou no candeeiro atirou-o contra a cabeça dele, matando-o. Não se sentia arrependida. Era o justo para ele, nunca mais lhe bateria. Estava livre. Era tudo o que precisava.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário