Marcos e
Valter conduziram até á casa dos pais de João.
- É ali. –
Disse Marcos, saindo do carro.
O chefe
aproximou-se, parou e disse algo ao telemóvel. Quando deram por isso, havia
policia por todo o lado. Como se alguém tivesse raptado alguém contra a sua
vontade.
- Maldito,
enganou-me… - Gritou Marcos, sendo segurado por vários policias para não bater
no seu chefe.
- É
verdade, enganei-te. E tu caíste que nem um patinho. Temos pena.
- Não!
Célia!!! - Gritou Marcos.
Valter
encostou-se ao carro, por um momento, a fumar um cigarro. Depois, sem que
ninguém se apercebesse, voltou a entrar dentro do carro, tirou uma arma do
porta luvas e disparou contra si mesmo, morrendo instantaneamente. Enquanto
isso, uma Célia confusa saiu de casa com Joanne pela mão.
- Ali está
ela! Vão buscar a miúda! Prendam-na!
Os
policias obedeceram às ordens do chefe. Célia foi presa, sem saber o que seria
de Joanne. Marcos também, por colaboração no rapto. Pelo caminho Célia viu o
corpo de Valter ser levado, sem saber que se havia passado com ele. Quem a iria
salvar?
Já na
delegacia, os policias tentaram apertar sobre Célia, fazendo-a confessar do que
o que fizera fora errado. Mas por pouco tempo. O seu pai soubera do que se
passara. Mandara os seus melhores advogados protegerem Célia, enquanto outro
grupo de advogados recolhiam testemunhas para processar a esquadra de policia
por brutalidade. Foi um trabalho árduo, mas conseguiram.
Marcos
estava á mercê dos colegas. Sem saber o que se havia passado (e enganados pelo
chefe), deram porrada nele. Só o deixaram em paz quando já estava deitado no
chão sem reação. Arrastaram-no até uma cela e deixaram-no lá, sem tratamento.
No final de contas, pensavam que ele era pedófilo. Só um ou dois não
acreditaram na versão do chefe. Mas não tiveram coragem de se manifestar,
juntando-se aos outros na sessão de espancamento. Mas tudo havia de mudar…
Dias
passaram e Marcos começou a recuperar lentamente. Célia ia visitá-lo, contra os
desejos do pai. Ela estava de luto por Valter, sem saber (ainda) que tipo de
homem ele era por trás. Marcos ainda quase não conseguia falar, tal não fora o
estado em que o haviam deixado. E isso não era o pior. Os presos tinham raiva
dos polícias. E Marcos havia posto muitos lá dentro...
Vendo o
estado dele, Célia engoliu o seu orgulho e dirigiu-se a casa do pai. Não estava
exatamente agradecida por ter sido libertada por ele. Acreditava que tudo se
havia de se revelar. Mas tinha de o fazer, por Marcos.
Chegou a
casa num momento em que o pai estava a ter uma reunião importante no
escritório. Célia aguardou. Quando o pai saiu com o cliente, olhou para ela com
desagrado. Ela acenou, ele assentiu. Aguardou que o pai se despedisse
coniventemente do cliente e entrou no escritório.
- Diz. –
Disse o pai.
- Boa
tarde filha, tudo bem? Palavras agradáveis que nunca me dirigiste na vida. –
disse Célia.
- Vá,
despacha-te que tenho mais que fazer.
-
Educação. O que te falta é educação.
O pai
suspirou.
- Boa
tarde, filha. Como vais? – Disse o pai, fazendo um sorriso amarelo.
- Melhor,
apesar de falso. Venho aqui pedir-te um favor.
- Outro?
Achava que já te tinha feito um ao te libertar da cadeia.
- Bem, é
parecido. Preciso que libertes o Marcos.
- O
Marcos!? Esse está perdido. Acabou a carreira para ele, se não a própria vida.
- Pai, ele
foi espancado pelos colegas, mal se consegue mexer. Nem lhe deram tratamento
médico, lançaram-no apenas para a cadeia. Ele está a ser sodomizado pelos
outros presos, nem tem hipótese.
- Ele é
que abriu a sua própria cova, ao ajudar-te e aos outros. Já agora, que é dos
outros?
- Do João
não sei. O Valter… faleceu…
- Ah, sim,
foi o que se matou, não foi?
- Vais
ajudar ou não?
- Não. –
Disse o pai.
- Mas não
porquê?
- Porque
não. Agora sai.
- Não. –
Respondeu Célia. – Não saio daqui até mudares de opinião.
- Célia,
já não és uma criancinha para fazeres uma sessão de birra. Vê se cresces e sai
do escritório.
- Não me
entendeste. Eu vou te fazer mudar de opinião.
- Haha. E
como, posso perguntar?
- Eu sei
que mataste um homem.
- Chiu,
alguém te pode ouvir e acreditar que é verdade. Porque dizes isso?
- Quando
pequena, via a mãe cuidar muito de uma roseira, sem razão aparente. Cuidava por
demais. Assim, uma noite, estavam vocês nas vossas tarefas, esgueirei-me até ao
jardim. Vi que a terra estava remexida. Comecei a cavar. Encontrei um braço
dentro de um saco de plástico. Não sei qual o papel da mãe nesta história, mas
sei que ela era incapaz de matar uma mosca. Ah, e sim, sei. Sei que mataste
todos os animais que tive. Também os descobri.
- Por isso
não voltaste a pedir-me para adotar animais. Mas, voltando ao assunto, como
foste capaz de guardar esse segredo durante tanto tempo?
- Vais
ajudar ou não? Ah, e no caso de pensares te desfazer do corpo para te
inocentares quero dizer que, antes de vir aqui, retirei um dedo do osso do
corpo e uma amostra de terra, que penso entregar à policia caso te recuses a
ajudar. Não vais fazer nada à tua filha, pois não?
- Quem te
garante isso? – Disse o pai.
- És meu
pai… - Respondeu Célia.
O pai
mordeu o lábio.
- Fazemos
assim. Em dois dias ele será libertado. Só não te garanto em que estado. E, a
partir daí, será com ele. E tu entregas-me as provas.
-Não. Vais
fazer com que todas as acusações sobre ele desapareçam e restaurar a honra
dele. Se ele decidir continuar na polícia, é com ele. Mas o seu bom nome será
restaurado.
- Não, o
que vai acontecer…
- Adeus. –
Disse Célia, virando as costas para sair do escritório.
O pai
segui-a.
- Quem
julgas que és? Está bem, vamos fazer á tua maneira. Mas não me voltas a fazer
chantagens, ouviste? Entregas-me as provas todas.
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