segunda-feira, novembro 05, 2018

Para lá da visão, Capitulo 31






Marcos e Valter conduziram até á casa dos pais de João.

- É ali. – Disse Marcos, saindo do carro.

O chefe aproximou-se, parou e disse algo ao telemóvel. Quando deram por isso, havia policia por todo o lado. Como se alguém tivesse raptado alguém contra a sua vontade.

- Maldito, enganou-me… - Gritou Marcos, sendo segurado por vários policias para não bater no seu chefe.

- É verdade, enganei-te. E tu caíste que nem um patinho. Temos pena.

- Não! Célia!!!  - Gritou Marcos.

Valter encostou-se ao carro, por um momento, a fumar um cigarro. Depois, sem que ninguém se apercebesse, voltou a entrar dentro do carro, tirou uma arma do porta luvas e disparou contra si mesmo, morrendo instantaneamente. Enquanto isso, uma Célia confusa saiu de casa com Joanne pela mão.

- Ali está ela! Vão buscar a miúda! Prendam-na!

Os policias obedeceram às ordens do chefe. Célia foi presa, sem saber o que seria de Joanne. Marcos também, por colaboração no rapto. Pelo caminho Célia viu o corpo de Valter ser levado, sem saber que se havia passado com ele. Quem a iria salvar?



Já na delegacia, os policias tentaram apertar sobre Célia, fazendo-a confessar do que o que fizera fora errado. Mas por pouco tempo. O seu pai soubera do que se passara. Mandara os seus melhores advogados protegerem Célia, enquanto outro grupo de advogados recolhiam testemunhas para processar a esquadra de policia por brutalidade. Foi um trabalho árduo, mas conseguiram.



Marcos estava á mercê dos colegas. Sem saber o que se havia passado (e enganados pelo chefe), deram porrada nele. Só o deixaram em paz quando já estava deitado no chão sem reação. Arrastaram-no até uma cela e deixaram-no lá, sem tratamento. No final de contas, pensavam que ele era pedófilo. Só um ou dois não acreditaram na versão do chefe. Mas não tiveram coragem de se manifestar, juntando-se aos outros na sessão de espancamento. Mas tudo havia de mudar…

Dias passaram e Marcos começou a recuperar lentamente. Célia ia visitá-lo, contra os desejos do pai. Ela estava de luto por Valter, sem saber (ainda) que tipo de homem ele era por trás. Marcos ainda quase não conseguia falar, tal não fora o estado em que o haviam deixado. E isso não era o pior. Os presos tinham raiva dos polícias. E Marcos havia posto muitos lá dentro...

Vendo o estado dele, Célia engoliu o seu orgulho e dirigiu-se a casa do pai. Não estava exatamente agradecida por ter sido libertada por ele. Acreditava que tudo se havia de se revelar. Mas tinha de o fazer, por Marcos.

Chegou a casa num momento em que o pai estava a ter uma reunião importante no escritório. Célia aguardou. Quando o pai saiu com o cliente, olhou para ela com desagrado. Ela acenou, ele assentiu. Aguardou que o pai se despedisse coniventemente do cliente e entrou no escritório.

- Diz. – Disse o pai.

- Boa tarde filha, tudo bem? Palavras agradáveis que nunca me dirigiste na vida. – disse Célia.

- Vá, despacha-te que tenho mais que fazer.

- Educação. O que te falta é educação.

O pai suspirou.

- Boa tarde, filha. Como vais? – Disse o pai, fazendo um sorriso amarelo.

- Melhor, apesar de falso. Venho aqui pedir-te um favor.

- Outro? Achava que já te tinha feito um ao te libertar da cadeia.

- Bem, é parecido. Preciso que libertes o Marcos.

- O Marcos!? Esse está perdido. Acabou a carreira para ele, se não a própria vida.

- Pai, ele foi espancado pelos colegas, mal se consegue mexer. Nem lhe deram tratamento médico, lançaram-no apenas para a cadeia. Ele está a ser sodomizado pelos outros presos, nem tem hipótese.

- Ele é que abriu a sua própria cova, ao ajudar-te e aos outros. Já agora, que é dos outros?

- Do João não sei. O Valter… faleceu…

- Ah, sim, foi o que se matou, não foi?

- Vais ajudar ou não?

- Não. – Disse o pai.

- Mas não porquê?

- Porque não. Agora sai.

- Não. – Respondeu Célia. – Não saio daqui até mudares de opinião.

- Célia, já não és uma criancinha para fazeres uma sessão de birra. Vê se cresces e sai do escritório.

- Não me entendeste. Eu vou te fazer mudar de opinião.

- Haha. E como, posso perguntar?

- Eu sei que mataste um homem.

- Chiu, alguém te pode ouvir e acreditar que é verdade. Porque dizes isso?

- Quando pequena, via a mãe cuidar muito de uma roseira, sem razão aparente. Cuidava por demais. Assim, uma noite, estavam vocês nas vossas tarefas, esgueirei-me até ao jardim. Vi que a terra estava remexida. Comecei a cavar. Encontrei um braço dentro de um saco de plástico. Não sei qual o papel da mãe nesta história, mas sei que ela era incapaz de matar uma mosca. Ah, e sim, sei. Sei que mataste todos os animais que tive. Também os descobri.

- Por isso não voltaste a pedir-me para adotar animais. Mas, voltando ao assunto, como foste capaz de guardar esse segredo durante tanto tempo?

- Vais ajudar ou não? Ah, e no caso de pensares te desfazer do corpo para te inocentares quero dizer que, antes de vir aqui, retirei um dedo do osso do corpo e uma amostra de terra, que penso entregar à policia caso te recuses a ajudar. Não vais fazer nada à tua filha, pois não?

- Quem te garante isso? – Disse o pai.

- És meu pai… - Respondeu Célia.

O pai mordeu o lábio.

- Fazemos assim. Em dois dias ele será libertado. Só não te garanto em que estado. E, a partir daí, será com ele. E tu entregas-me as provas.

-Não. Vais fazer com que todas as acusações sobre ele desapareçam e restaurar a honra dele. Se ele decidir continuar na polícia, é com ele. Mas o seu bom nome será restaurado.

- Não, o que vai acontecer…

- Adeus. – Disse Célia, virando as costas para sair do escritório.

O pai segui-a.

- Quem julgas que és? Está bem, vamos fazer á tua maneira. Mas não me voltas a fazer chantagens, ouviste? Entregas-me as provas todas.

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