segunda-feira, novembro 05, 2018

Para lá da visão, capítulo 6






- Não estás sozinha. - Dizia Célia, entre lágrimas, enquanto acariciava a cabeça de Joanne. - Eu sei o que se passa. Não estás mais sozinha. Eu vou te ajudar. - Disse, num sussurro.

- Obrigada. - Disse Joanne.

Estava de volta ao seu quarto. As ordens eram para vigiá-la constantemente. Nada de facas na mão dela. Eram as enfermeiras quem cortavam a comida dela, agora. Joanne estava mais presa. Não literalmente, pois, mais uma vez, haviam tido pena dela e não a tinham preso. Isso e devido a muita pressão da enfermeira Célia, que havia assegurado que, com as novas medidas de segurança, ela não voltaria a fazer mal a ela ou a quem quer que fosse.

Joanne estava rodeada dos seus bonecos de peluche. Brincava com eles como uma criança normal, fazendo teatrinhos. Mas estes não eram normais. Falava de Sarita, da sua obsessão de levar a sua irmã à morte. Ninguém lhe dava importância, exceto Célia. Esta observava com atenção as brincadeiras de Joanne.

- É isso o que ela quer, Joanne? Que tu mortas? Que fiques com ela? - Perguntou Célia a Joanne.

Joanne encolheu-se e, depois, fez que sim com a cabeça.

- Isso não vai acontecer. Eu vou encontrar ajuda.

'Mas como encontrar?', pensou Célia. O que precisavam era de um padre exorcista, mas nunca lhe iriam deixar levar um para o hospital psiquiátrico. Diriam que Célia é que era a louca. Mas ela podia aprender com o padre. Ora aí estava uma solução.

E assim foi. Ao longo de meses, foi ter com um padre e, depois de lhe explicar a situação, este acedeu a ajudá-la. Ensinava-lhe os ritos religiosos para retirar um espírito de sua casa.

Joanne ia crescendo. Ninguém parecia muito interessado em saber que ela já devia ter aulas, como as crianças normais. Ainda acalentavam a esperança de que os familiares a fossem buscar, que a levassem, que a perdoassem pelos seus atos. Mas isso não aconteceu, durante meses. Até que, um dia, os avós paternos passaram pelo hospital e pediram para vê-la. Tempo havia passado, e estavam, ou aparentavam estar preocupados com a neta. Viram-na através dos vidros e lágrimas vieram-lhe aos olhos. Pareciam mesmo gostar de Joanne. Ficou decidido, dias depois, entregar Joanne aos avós paternos, tal como eles tinham requisitado. Todos acreditaram no amor dos avós paternos. Exceto Célia. Ela era contra esse regresso, mas nada podia fazer.

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