- Não
estás sozinha. - Dizia Célia, entre lágrimas, enquanto acariciava a cabeça de
Joanne. - Eu sei o que se passa. Não estás mais sozinha. Eu vou te ajudar. -
Disse, num sussurro.
-
Obrigada. - Disse Joanne.
Estava de
volta ao seu quarto. As ordens eram para vigiá-la constantemente. Nada de facas
na mão dela. Eram as enfermeiras quem cortavam a comida dela, agora. Joanne
estava mais presa. Não literalmente, pois, mais uma vez, haviam tido pena dela
e não a tinham preso. Isso e devido a muita pressão da enfermeira Célia, que
havia assegurado que, com as novas medidas de segurança, ela não voltaria a
fazer mal a ela ou a quem quer que fosse.
Joanne estava
rodeada dos seus bonecos de peluche. Brincava com eles como uma criança normal,
fazendo teatrinhos. Mas estes não eram normais. Falava de Sarita, da sua
obsessão de levar a sua irmã à morte. Ninguém lhe dava importância, exceto
Célia. Esta observava com atenção as brincadeiras de Joanne.
- É isso o
que ela quer, Joanne? Que tu mortas? Que fiques com ela? - Perguntou Célia a
Joanne.
Joanne
encolheu-se e, depois, fez que sim com a cabeça.
- Isso não
vai acontecer. Eu vou encontrar ajuda.
'Mas como
encontrar?', pensou Célia. O que precisavam era de um padre exorcista, mas
nunca lhe iriam deixar levar um para o hospital psiquiátrico. Diriam que Célia
é que era a louca. Mas ela podia aprender com o padre. Ora aí estava uma
solução.
E assim
foi. Ao longo de meses, foi ter com um padre e, depois de lhe explicar a
situação, este acedeu a ajudá-la. Ensinava-lhe os ritos religiosos para retirar
um espírito de sua casa.
Joanne ia
crescendo. Ninguém parecia muito interessado em saber que ela já devia ter
aulas, como as crianças normais. Ainda acalentavam a esperança de que os
familiares a fossem buscar, que a levassem, que a perdoassem pelos seus atos.
Mas isso não aconteceu, durante meses. Até que, um dia, os avós paternos
passaram pelo hospital e pediram para vê-la. Tempo havia passado, e estavam, ou
aparentavam estar preocupados com a neta. Viram-na através dos vidros e
lágrimas vieram-lhe aos olhos. Pareciam mesmo gostar de Joanne. Ficou decidido,
dias depois, entregar Joanne aos avós paternos, tal como eles tinham
requisitado. Todos acreditaram no amor dos avós paternos. Exceto Célia. Ela era
contra esse regresso, mas nada podia fazer.
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